Grupo Pró-Renal comemora 40 anos de pioneirismo no Brasil na modalidade de diálise domiciliar

No ano de 1980 o médico Nefrologista Dr. Miguel Riella trouxe a terapia para o país e realizou a primeira experiência do “rim portátil”, a chamada Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua.

O Paciente Renal Crônico precisa de uma terapia renal substitutiva para sobreviver. A Diálise Peritoneal é uma forma de tratamento que fornece mais liberdade, conforto e qualidade de vida pois é realizada no próprio domicílio. É considerada a terapia que mais se assemelha com a função dos rins, pois remove diariamente as substâncias impuras do organismo. Muitos conhecem e optam pela Hemodiálise, um tratamento mais tradicional, que acontece em uma clínica especializada, geralmente 3 vezes na semana, por 4 horas em cada sessão.

No início a Diálise Peritoneal era realizada manualmente com 4 trocas diárias da solução intra-abdominal, em todos os dias da semana. Atualmente a Diálise Peritoneal Domiciliar é realizada automaticamente em uma máquina portátil que cicla a solução no abdômen de 9 horas a 10 horas, geralmente durante a noite.

É importante ressaltar que a Doença Renal requer cuidados de múltiplas especialidades e a Fundação Pró-Renal através de sua equipe multiprofissional garante um plano de cuidado individualizado de acordo com as necessidades de cada paciente.

A instituição também é a primeira Fundação de Amparo à Pesquisas em Enfermidades Renais e Metabólicas, sendo hoje uma referência mundial no modelo de cuidado humanizado realizado pela equipe multiprofissional: assistência médica, nutrição, psicologia, enfermagem, podologia, odontologia, serviço social, farmácia, exames de imagem e procedimentos cirúrgicos ambulatoriais que garantem um acesso rápido e eficiente ao tratamento renal substitutivo, tudo na mesma estrutura física, sem precisar resolver as necessidades em outros locais de atendimento à saúde. 

Confira abaixo, a entrevista com o Dr. Miguel Riella, que relata detalhes sobre a terapia.

P: Quando iniciou o serviço de Diálise Peritoneal no Brasil?  

R: A Diálise Peritoneal iniciou em 1976 e em 1980 foi iniciada a Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua. Inicialmente a Diálise Peritoneal era feita em pacientes com insuficiência renal aguda com a utilização de cateter rígido para se ter acesso a cavidade peritoneal, que era retirado após a sessão de diálise. Para pacientes crônicos havíamos iniciado a implantação do cateter de silicone (Tenckhoff). Este cateter não era comercializado, era confeccionado por nós no próprio serviço: tínhamos trazido dos Estados Unidos o silicone tubular, fazíamos os furos em uma das extremidades e grudávamos os anéis de Dacron também confeccionados por nós.

P: Por que existiu a necessidade de trazer essa modalidade? Como aconteceu isso?

R: Quando Popovich e Moncrief publicaram as bases fisiológicas da diálise contínua, Karl Nolph em 1978 propôs a utilização dos princípios no manejo de pacientes renais crônicos: infundir 2 litros e deixar na cavidade abdominal por 6 horas. O líquido de diálise só existia em frascos de vidro. As infecções (peritonites) eram frequentes. Oreopoulos em Toronto tinha o líquido de diálise em bolsas de plástico de 2 litros (Baxter) e assim transformou o seu programa de Diálise Peritoneal intermitente para contínua praticamente em poucos dias. Como nós tínhamos estudado com Belding Scribner e Henry Tenckhoff em Seattle em 1973-1975, estávamos muito familiarizados com o método da Diálise Peritoneal. Em 1978 visitamos Oreopoulos em Toronto juntamente com o gerente geral da Baxter no Brasil (Laerte Castanha) justamente para tentar convencê-los a trazer as bolsas de diálise para o Brasil. Foi assim que iniciou a Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (CAPD) no Brasil em 1980.

P: Como funciona a Diálise Peritoneal?  

R:O líquido de diálise inserido no abdômen retira as toxinas do sangue através de um processo de difusão. No sangue as altas taxas de toxinas passam para o líquido de diálise através da membrana peritoneal que reveste nossa cavidade abdominal.

P: Quais são as vantagens da modalidade? Diferenciais?

R: É uma forma de diálise domiciliar que não se baseia na circulação extracorpórea de sangue, logo ideal para idosos e crianças, nos quais o acesso à circulação nem sempre é fácil.

P: Quais cuidados o Paciente deve ter?

R: Deve realizar sempre a assepsia, principalmente para não contaminar o líquido e causar infecção na cavidade abdominal (peritonite).

P: Qual a diferença da Hemodiálise para a Diálise Peritoneal?

R: Na hemodiálise é necessário ter acesso à circulação através de um cateter na veia ou de uma fistula arteriovenosa para que o sangue circule fora do corpo (extracorpóreo) e passe por um filtro cujas fibras são “banhadas” pelo líquido de diálise. O princípio é o mesmo da Diálise Peritoneal: difusão. As toxinas do sangue passam para o líquido de diálise. É um método eficiente e rápido. Em 4 horas acontece uma redução de mais de 65% das toxinas no sangue. É realizado geralmente 3 vezes na semana. Na Diálise Peritoneal, por ser mais lento o processo, deve ser realizado diariamente, geralmente durante a noite enquanto o paciente dorme, com duração de 9 horas ou 10 horas.

P: Como é realizado o atendimento pela equipe multiprofissional da Fundação Pró-Renal aos pacientes em Diálise Peritoneal?

R: Pelos múltiplos problemas decorrentes da Doença Renal Crônica, os pacientes são atendidos também em consultas pelo médico, enfermeira, assistente social, psicóloga, podólogo, farmacêutico, dentista e nutricionista que acompanham o Paciente durante todo tratamento.

P: Qual a importância do atendimento da equipe multiprofissional (FPR) para o Paciente em Diálise Peritoneal?

R: A equipe multiprofissional individualiza as necessidades do paciente evitando o agravamento das complicações físicas e emocionais inerentes da doença. O cuidado tem como objetivos promover a independência, socialidade e melhora da qualidade de vida do paciente.

O diferencial do atendimento é o suporte que a Fundação Pró-Renal proporciona ao paciente através das parcerias e do encaminhamento rápido e eficiente para outras especialidades médicas sem depender da unidade de saúde. Ressalto que é fundamental para o paciente o cuidado complementar especializado de sua saúde! Outro diferencial é o atendimento médico e multiprofissional de Pacientes em tratamento conservador (pré-diálise, não crônico) que tem como objetivo, prevenir a perda progressiva da função renal.

P: Quais as razões do sucesso do programa de Diálise Peritoneal do Grupo Pró-Renal?

R: Acreditamos que o sucesso vem primeiramente com a capacitação contínua médica e da equipe da enfermagem nesta modalidade em que são especialistas na área de atuação, e por realizar o atendimento exclusivo da terapia, onde o paciente cria um vínculo para realizar o autocuidado domiciliar. Outro aspecto importante é a atuação de uma equipe cirúrgica, treinada e especializada em técnicas de implante dos acessos com maior sucesso para a sobrevida do cateter. Enfim, ter uma equipe multiprofissional capacitada, treinada e apta para reconhecer precocemente os problemas que possam surgir, garante o sucesso da terapia.

P: Qual o futuro dessa modalidade no país? O que se espera?

R: A penetração no Brasil é baixa principalmente por aspectos econômicos: o reembolso para as clínicas é baixo e não cobre os custos. Hoje a penetração é 6% ou seja, dos mais de 120 mil pacientes em diálise no Brasil, apenas 6-7% fazem a Diálise Peritoneal.

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